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Perfeição na maternidade: o que seria uma mãe suficientemente boa?

  • Foto do escritor: Lucas Soares
    Lucas Soares
  • 8 de ago. de 2024
  • 4 min de leitura

mãe fazendo suas necessidades fisiológicas enquanto criança brinca com ela no banheiro

O dia das mães segue sendo uma das datas mais importantes no mundo comercial, contudo, o espaço de reflexão sobre o que é ser mãe e sobre os desafios que essa maternidade traz, parecem ficar em segundo plano com muita frequência, o que só amplifica o sofrimento estrondoso que as mães vivem diariamente e que com tanta recorrência chega até o meu consultório. Porém, a psicologia traz um conhecimento conciso, empático e possível para uma maternidade saudável e uma das expressões que mais me agrada nesse contexto é o conceito de Mãe Suficientemente Boa. Você já tinha ouvido falar disso? Como assim uma mãe não precisa ser perfeita para ter um filho saudável?


O termo foi cunhado pelo pediatra, psiquiatra e psicanalista Donald W. Winnicott em uma entrevista à BBC. Com muita cautela ao se pronunciar sobre o assunto maternidade, Winnicott traz uma noção mais humana para essa vivência e que, alem disso, ressalta como os erros provocados por uma mãe, podem funcionar de forma saudável para o desenvolvimento de uma criança.


Não é novidade a pressão que as mães sofrem de todos os lados sobre a criação de seus filhos. Socialmente, existe uma série de concepções sobre como a criação deve acontecer e isso parece dar uma liberdade para que qualquer pessoa se sinta no direito de opinar na educação do filho alheio. Se não bastasse a invasão de espaço, esses comentários geralmente são carregados por lógicas insustentáveis e sem sentido para aquela mãe. Apesar disso, os olhares carregados de julgamento sempre se voltam para essa mulher que, geralmente, está se esforçando bastante para conseguir cumprir seu papel de maneira satisfatória.


Toda essa pressão social gera também uma cobrança interna cruel. Entre as próprias mães, é comum encontrar histórias de violência psicológica no que concerne a criação de filhos e ao atendê-las na psicoterapia individual, sempre percebo um movimento cíclico de culpa que se retroalimenta muito facilmente trazendo muito sofrimento para esta mulher.


Com pressões de todos os lados, inclusive da própria criança, da escola, de outras mães, da sociedade; ser mãe se torna uma junção de desafios maratonistas e quase impossíveis de se processar. Porém, ao estudarmos o desenvolvimento infantil, assim como Winnicott, é possível chegar a um modelo mais humanizado da criação de filhos.


A perfeição, por mais ilógica que seja, se apresenta como possibilidade plausível para muitas mães. Elas se constroem dentro de uma maternidade cheia de imposições, limitações e obrigações minuciosas, tarefas e medidas protetivas, o que configura uma intenção nítida em um esforço exaustivo de manter o controle sobre todas as situações da vida da criança. Como efeito colateral, se tornam metódicas e super protetivas, sufocando os filhos e debilitando a saúde mental e física de ambos.


Quando chegam a conclusão inevitável que essas ações não culminarão em uma educação perfeita e em um filho perfeito, cresce um grande sentimento de frustração, seguido por uma sensacao de impotência significativa e exaustão, o que denota um cenário propicio para o desenvolvimento de processos de adoecimento mental.


Contudo, estudos como os de Winnicott e outros colaboradores de diferentes áreas da Psicologia, já postulam linhas de ação que abarcam o conceito de Mãe Suficientemente Boa. Neste pressuposto teórico, os erros que uma mãe comete são fundamentais para o desenvolvimento humanizado de uma criança. Para isso, o conceito aponta que não é necessário ser uma mãe perfeita, mas que para ser suficientemente boa, seria necessário prover as necessidades do indivíduo para que ele possa se constituir enquanto sujeito e quando ocorressem as falhas, corrigi-las diretamente com a criança em um movimento honesto e dialógico. Em tese, essas ações poderiam gerar um senso de empatia e intimidade com aquele “Outro” Cuidador.


Cometer erros na maternidade será sempre uma realidade factual, a diferença apontada nesse modelo vem da maneira como essa mãe pode lidar com suas falhas. Comunicá-las, explicá-las, retratar-se e mudar de rota são ações suficientes para “corrigir” cursos disfuncionais aplicados anteriormente.Para além desse benefício, os erros cometidos por uma mãe que os comunica e os repara como apontado anteriormente, humanizam essa mãe e assim, a criança cresce com um senso empático mais apurado: “já que minha mãe erra e se retrata, eu posso errar e vou conseguir me corrigir. Outros irão errar comigo e nós temos a chance de reparar essas relações se eu me utilizar do recurso dialógico“.


Imagina se você tivesse a oportunidade de crescer nesse cenário! O quao mais fácil seria para você a resolução de conflitos? o quao mais fácil seria falar sobre seus sentimentos e conseguir traçar ações inteligentes para se modificar diante das dificuldades? Seria um lugar muito interessante do campo de vista da Psicologa do Desenvolvimento Infantil. Imagine os benefícios que esse modelo pode exercer sobre uma criança que chega a adolescência, um período tão crítico da vida humana e que muitos pais sentem uma grande dificuldade de acessar seus filhos e os adolescentes costumam ter muitas reservas para revelar seus erros, dúvidas e angústias.


Isso acontece porque eles não foram ensinados para agir diferente diante desse cenário. Sempre o adulto traz a possibilidade de acesso para o adolescente sem demonstrar a própria fragilidade e dificuldades na vida, o que não gera um sentimento de identificação suficiente para que o adolescente se abra. Nossas dores e dificuldades nos aproximam uns dos outros e se isso puder aparecer para o seu filho neste contexto dialógico cheio de respeito, empatia e humanismo, quais podem ser os resultados para a qualidade das relações entre pais e filhos?

É preciso compreender a complexidade de se criar uma criança e é imprescindível que as nossas mães recebam uma dose generosa de misericórdia e compreensão, todas as mães merecem isso.


Estender essa empatia a elas, não inocenta àquelas que por algum motivo produziram o mal, mas nos dá uma chance de retirar esse peso esmagador da culpa e de obrigações ilógicas colocados sobre elas, o que pode ter um efeito terapêutico até para que seja mais fácil a produção de um processo educacional que seja saudável. Já é de conhecimento público que “é necessário uma vila para criar uma criança “, deixemos que esse provérbio evoque em nós um cuidado que suplante a noção singular de proteção às crianças e que amplifiquemos esse cuidado para as mulheres que bravamente se propõe a continuar dando a luz à vida humana como conhecemos e este pode ser, enfim, o caminho mais consistente para a transformação desta espécie.


Que desafio é a maternidade! Se você precisa de ajuda para manejar esse aspecto da vida, conte comigo



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Psicólogo Lucas Soares

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