Adoecimento no trabalho: Burnout, TDAH e procrastinação
- Lucas Soares
- 8 de ago. de 2024
- 4 min de leitura

Uma das principais características que usamos para nos determinar enquanto humanidade é através da relação que estabelecemos com o meio que habitamos e como estamos constantemente transformando-o. Essa relação é tão poderosa que Luria, Vigotski, Marx e outros autores vão trazer como movimento central de Humanização, correlacionando até com o desenvolvimento biológico, especialmente das Funções Psicológicas. Trocando em miúdos, a forma como nos relacionamos com o mundo exterior está em relação direta com o desenvolvimento psicológico, desde as funções biológicas, até as mais complexas estruturas de elaboração consciente.
Essas transformações do nosso meio ganham o nome de Trabalho. Na sociedade atual, este tem um valor central e determina como nos identificamos (sou psicólogo, professor, bailarino, cozinheiro, etc) e também é a principal fonte de manejo para nossas necessidades básicas (fisiológicas, de segurança). Essas necessidades, funcionam na nossa mente em uma hierarquia e ditam como a nossos recursos vão se movimentar na nossa mente para o suprimento dessas necessidades. O psicólogo Maslow, elaborou a Hierarquia de Necessidades de Maslow. Na base da pirâmide, temos as nossas necessidades fisiológicas (comer, dormir, etc), elas viriam antes das necessidades de Segurança (segurança física, saúde, emprego estável), ou seja, para alguém que está com muita fome, não haveria um processamento muito efetivo do plano da Segurança, pois é mais importante saciar uma necessidade Fisiológica do que uma necessidade de Segurança. Mais acima na pirâmide, vamos encontrar necessidades mais complexas como Necessidades Afetivas (amizade, família, interação social) e as de Reconhecimento (autoestima, respeito).
Quando estudamos os adoecimentos do Trabalho, como o Burnout ou mesmo um conceito mais problemático, não necessariamente conhecido como doença, os Workaholic, encontramos um sujeito distante do processo de saúde integral, intimamente ligado com uma escala de produção assustadora e um distanciamento das suas questões afetivo-emocionais. Olhando de forma simplista, poderíamos dizer que essa pessoa somente gosta de trabalhar muito ou mesmo que não liga para a família e para interações sociais. Maslow e Marx vão discordar dessas afirmações.
Para explicar esse movimento, temos duas propostas. EM alguns casos, as necessidades fisiológicas de uma família, podem levar alguns indivíduos para um lugar exaustivo de trabalho, na tentativa de suprir essas necessidades. Nesse caso, esses membros parecerão distantes e frios, talvez nem percebendo sua grosseria e afastamento do núcleo familiar, o que por consequência, vai gerar adoecimento, pois as necessidades acima na pirâmide (afetividade e reconhecimento), ficam sem ser supridas, gerando sentimentos conflitantes, muitas vezes, classificados como Transtornos de Humor (depressão, ansiedade, borderline, bipolaridade).
Na segunda perspectiva, temos as pessoas que não necessariamente tem uma necessidade fisiológica abruptamente gritante, mas que não conseguem desenvolver relações sociais saudáveis, nem recursos psicológicos para lidar com o seu sofrimento psicológico. Neste momento, surge uma alternativa na mente deste sujeito, embebedar-se de trabalho para sentir menos as dores emocionais. Isso acontece porque o trabalho também pode ter um efeito anestesiante. Por se tratar de uma tarefa pragmática, o nosso cérebro toma ela como mais simples e por isso, capta primeiro os recursos para lidar com aquilo que está a sua frente (8h de trabalho na empresa, por exemplo) e deixa para depois aquela questão mais complexa (geralmente de cunho psicoemocional).
Você já esteve muito cansado, com muito sono e a sua mente começou a te lembrar de problemas que você precisava resolver, coisas bobas e vergonhosas que já fez ou simplesmente começou a ficar triste e ansioso bem na hora de dormir? Esses são bons exemplos sobre o que estou tratando agora! Essas outras questões psicológicas e emocionais são mais complexas e demandam conhecimento e acolhimento par manejá-las. EM um dia cheio de atividades pragmáticas “mais simples”, seu cérebro não vai escolher lidar com seu trauma de infância, briga com o parceiro ou mesmo aquele sentimento de tristeza e vazio. Ele tem preocupações mais urgentes e vai te trazer essas outras problemáticas quando entender que você está disponível e que pode ter os recursos para lidar com isso.
O problema desse movimento é que essas questões vão se acumulando no nosso muno psicológico e a gente vai ficando cheio de sentimentos difíceis de manejar, até que comecemos a nos afogar. A gente sabe que precisa de pausas, precisa se acolher e tratar nossas questões psicológicas, mas parece não ser tão simples assim quando se tem um monte de outras necessidades que estão constantemente passando na frente e terminando de nos atropelar. Mas calma, nem tudo esta perdido. Existem possibilidades de manejo clínico psicoterapêutico para enfrentar esses momentos e você pode pedir ajuda se sentir que está vivendo algo assim, mas não podemos olhar para esse problema como algo simples, uma coisa que você pode resolver só dentro da sua cabeça com ótimos conselhos do seu terapeuta. Precisamos de mudanças reais na rotina, alimentação, sono, lazer e nas políticas públicas de trabalho, renda e manutenção da vida. Você não precisa resolver tudo isso só e o seu psicólogo, quando treinado para, pode contribuir em com estratégias para lidar com todos os âmbitos dessas dificuldades
Muitas vezes a exaustão pelo trabalho nem é percebida pelo indivíduo, mas é de extrema importância construir um ambiente de cuidado, se você deseja estar comigo diante dessas situações, clique no link abaixo
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